segunda-feira, março 24, 2008

Noites Longas na Cidade...

Chego a casa de madrugada...Contrariamente ao normal, não quero dormir...Apetece-me relembrar a intensidade da noite na sombra reconfortante de um café acabado de fazer.Ligo a chaleira eléctrica. No silêncio da casa ouço apenas os sons estridentes da minha agitação interior. Os que me mostram imagens contínuas de momentos, pessoas e espaços, vividos ao longo da noite.
Vou para a sala e abro a janela larga virada ao rio. Respiro fundo... uma e outra vez. Fecho os olhos para sentir o momento sem outras distracções...Lá fora, a Lua cheia ilumina a sala com uma luz fria mas hipnótica e bela... É linda. "És linda"... sussurro, com voz rouca, cansada e gasta pelas horas...Observo a avenida larga. É tarde... ou cedo, depende. Vejo ainda alguns carros em movimento.Ao longe... ao longe, o brilho das luzes da outra margem e da ponte que, numa dança ritmada em jeito de "rave silenciosa" da madrugada, me agitam as emoções.
A chaleira chama-me, com o seu apito seco e esfumaçado pelo vapor.Caminho calmamente e dirijo-me à cozinha, como se a noite fosse eterna...Sentia-me menos inquieta e excitada pelas novidades, pela mudança em curso, por tudo e todos por onde os meus caminhos me têm conduzido...
O café... Está quase pronto. A água ferve já dentro da cafeteira onde o pó escuro e de cheiro intenso antes repousava e agora se envolve, esfuziantemente, com a torrente escaldante de água.O café... Como um simples café é capaz de raptar-me o Coração e manter-me prisioneira das viagens da Alma.Abro o armário para tirar a minha chávena amarela-torrado... De uma forma tão real, passa por mim o filme em que te revejo. O momento em que costumava perguntar-te qual a côr da chávena que querias, entre as mais de 10 chávenas coloridas que guardo, carinhosamente, e que acumulam histórias de família.
Estás aqui, comigo... Em mim, onde sempre estarás. Sinto a tua presença, de tão intensa que é a lembrança.Guardo cada gesto, cada olhar dos teus olhos de eterno menino... o teu toque... o teu carinho... as palavras e até a tua voz... Guardo-te. Em mim...Respiro-te... Misturas-te com o aroma intenso do café, sem o qual não vivo... De olhos fechados, sinto cada momento da viagem, onde o aroma que invade a casa é a fita do filme que o café realiza... vezes sem conta. Sem açúcar. Basta-me a tua doçura...
Volto à sala e sento-me na janela ampla de parapeito baixo e confortável.O calor do café acarinha-me a face quando cuidadosamente o beijo na primeira prova... É quente, intenso, denso, e forte...Acarinho a chávena amarela com as duas mãos entrelaçadas para a proteger... para te proteger.
Já não sei o que me embala na frieza da luz intensa da Lua...

...
Encontrei o texto aqui... Achei-o lindo e quente como um café acabado de tirar!! ;)

7 comentários:

Å®t Øf £övë disse...

Ana,
Realmente este texto está muito bom. Talvez porque dá para sentir que cada palavra está carregada de sentimento, e de saudade.
Bjo.

Canephora disse...

Muito bom... adorei o texto...
e agora, ficas por aqui?

maria inês disse...

Excelente e como tu dizes quente como um café acabado de tirar!

Bom dia miuda

Isabel disse...

Um texto profundo e lindo ... que me fez viajar e já ir para lugares onde me perco um pouco todos os dias.

Bjnh

Sorrisos em Alta disse...

Bah!
Tanta coisa só para mostrar que tem uma casita com vista para o rio...
;o)

Mãe Galinha disse...

Excelente escolha, o texto é lindo :-)

nOgS disse...

Não sei onde foi escrito, mas faz-me lembrar Lisboa.

Está sublime o texto, concordo contigo e com o Art of Love:)

Uma pergunta...

Como é que colocaste o link do texto original apenas na palavra aqui?
Já ando a tentar fazer isso há algum tempo e não consigo:(
Eu e os computadores...

Beijinhos doces:)